A FORD NA SELVA AMAZÔNICA

Correio Mecânico
maio17/ 2021

Henry Ford (1863-1947), nascido na Cidade de Springwells, Michigan, EUA, fundador da FORD MOTOR COMPANY. Foi um empresário e inventor americano que revolucionou a indústria automobilística, criador do modelo Ford “T” e do sistema de produção em série, conhecido como Fordismo. No Brasil a FORD foi a pioneira, inaugurando sua primeira fábrica de automóveis no ano de 1919 na Cidade de São Paulo e encerrando suas atividades no ano de 2021, mas o que muito pouca gente sabe, é que a FORD criou uma verdadeira cidade no meio da selva Amazônica, chamada de FORDLÂNDIA.

Um projeto ambicioso de Henry Ford, no ano de 1928, já com 65 anos de idade, até então um dos homens mais ricos do mundo, fez um acordo com o Governo do Pará, que lhe cedeu 1 milhão de hectares de terras, para plantação de seringueiras em plena selva Amazônica, uma propriedade do tamanho de um Estado Americano como o Tennessee. De um lado, estava o industrial que havia aperfeiçoado a linha de montagem e dividido o processo de fabricação em componentes cada vez mais simples. Do outro lado, estava a famosa bacia do Amazonas, espalhada sobre nove países e abrangendo um terço da América do Sul, um lugar selvagem e diversificado. A Fordlândia era, segundo jornais da época, uma nova e titânica luta entre a natureza e o homem moderno, afirmando que FORD estava levando a magia do homem branco, para o mundo selvagem. A Fordlândia foi projetada como ponto central na produção de látex, para atender a demanda do mercado global, uma amostra das ambições de seu império, o contexto era um custo crescente de importação do látex para fabricação de pneus. Os maquinários de montagem das peças, assim como as tradicionais caixas d´água existentes na cidade, materiais de construção, tratores, trilhos, máquinas de serraria, ferramentas, geradores de energia, eram todas importadas dos Estados Unidos, vindos por navios. Havia a vila dos trabalhadores, com casas diferentes, porém de graça, ruas pavimentadas e iluminadas, água encanada, hospital, creches, clubes, piscinas, cinema, campos de golfe e carros pelas ruas. Nos fins de semana, os trabalhadores, boa parte deles brasileiros, participavam de bailes e concursos de poesia. As creches ofereciam leite de soja, por que FORD não tomava leite de vaca, o consumo de álcool era proibido, assim como na sociedade americana dos anos 20. A aventura durou duas décadas e custou dezenas de milhões de dólares em dois endereços, pois a cidade foi mudada para Belterra, a 60 km de distância, após uma praga devastar a primeira plantação. Os desafios da Forlândia, foram tão grandes quanto a floresta tropical, a taxa de mortalidade e febre amarela eram muito altas, a violência era pior do que nas cidades mais famosas do velho oeste, greves eram constantes, assim como comida estragada constantemente, pelo clima quente e muito úmido. As queimadas eram as maiores já vistas na Amazônia, com um desperdício enorme em terras e plantações improdutivas. Em vez de uma cidade virtuosa, brotando do verde da  Amazônia, comerciantes locais montaram bordéis, bares e cassinos montados de palha. Os americanos acabaram abandonando a Amazônia em 1945 sem levar nada, “Adeus, vamos voltar para Michigan”. As seringueiras, superadas em custos por plantações em outros mercados, como Malásia, Vietnã ou Indonésia, foram substituídas por cacau e por gado zebu, um dos primeiros plantéis a serem testados na imensa região Amazônica. A empreitada entrou para a história como um imenso fracasso e um símbolo de arrogância. Ficaram os galpões, as casas com suas mobílias, os maquinários, assim como toda a infraestrutura montada para o funcionamento do local que, por desconhecimento do lugar e do clima, pela cultura diferenciada e pelo próprio povo, não prosperou. Depois da saída dos americanos, casas, hospital, fábricas e muitos maquinários, foram furtados e ou danificados. Mas ainda existem casas em condições de moradia, com todos os móveis vindos dos EUA, e até talheres e pratos americanos. Distante aproximadamente 750 km de Belém, capital do Pará, Fordlândia fica na margem direita do Rio Tapajós e é uma localidade do Município de Aveiro. No total o Município de Aveiro tem aproximadamente 15.000 habitantes, dos quais 1000 vivem em Fordlândia, isso corresponde a um quinto da população da Vila, no auge do empreendimento da FORD. Atualmente a economia em Fordlândia é baseada na renda de pensionistas do Governo Federal, no pequeno comércio local e no manejo de produtos da floresta e do rio.

 

 

 

Herminio Duarte – Colunista do Jornal Correio Mecânico

(31) 3378-8795

 

O teu email não será publicado. Campos requiridos estão marcados *

Podes usar estes HTML tags e atributos: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>